terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Amélie a Paris

GÉRARD, Psiché et l'amour

Café les deux moulins





quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um conto de Natal que escrevi há muiiiiiiiiiiito tempo

Um conto de Natal

O Natal aproximava-se e Zézinho na sua pequena casa, que mais parecia uma casa de bonecas em ruínas, sonhava com a noite de Natal. A caixa de fósforos que lhe servia de quarto ficava no cimo de uma escada improvisada que dava para o sótão. Na casa não havia nenhum outro espaço disponível. Para além do seu minúsculo quarto, existia uma divisão onde dormiam os seus quatro irmãos e que servia ao mesmo tempo de cozinha e o quarto dos pais apenas com uma cortina a separar.
Zézinho, por ser o mais pequeno, era o único que cabia naquele cantinho perto do céu. Tinha esse mundo só para si. Era o seu mundo, mágico, mas sufocante na altura de mais calor e um tormento gélido nos invernos rigorosos. Aí Zézinho brincava de tudo. Retirava uma telha partida onde debaixo um balde aparava as pingas e observava a lua cheia. Imaginava-se aos comandos de um foguetão espacial que o levasse a pisar aquela enorme bola de prata. Outras vezes montava uma estrela cadente, domador de cavalos celestes.
Agora contava as estrelas para não chorar. Era a noite de Natal e Zézinho tinha pedido muito, mas muito, uma casa nova onde pudessem ser felizes. Nessa noite de inverno, como tantas outras, Zézinho deitava-se em companhia do balde das pingas e do cheiro a mofo. Era tal o frio que sentia, que tinha de dormir com a pouca roupa que tinha. Camisola sobre camisola, um casaco grosseiro a cheirar a lã, Zézinho sonhava com uma casa com lareira, onde pudesse deixar o sapatinho para o Menino Jesus pôr lá dentro coisas bonitas.
Nessa noite os seus quatro irmãos já dormiam, dois com os pés para a cabeceira e os outros dois para o lado contrário. Zézinho pensava neles... Tão novinhos e já com as mãos calosas do trabalho na fábrica de calçado onde também trabalhava o pai. Sem tempo para se encontrarem nas suas brincadeiras de meninos.
A sua mãe... pensava nela. Passava os dias esfregando e esfregando a roupa dos fregueses. Os seus olhos enchiam-se de água ao pensarem quando chegava com as mãos tão enganidas que nem conseguiam pegar-lhe ao colo. Atirava-se ao seu pescoço, faminto de um carinho, mas não tinha mãos para o agarrar. Na Primavera, gostava de a acompanhar ao rio. Observava os pequenos girinos, colherzinhas, como lhe chamava, e divertia-se a tentar apanhá-los com armadilhas.
A sua mãe era a pessoa que ele mais admirava. Conseguia equilibrar na cabeça uma bacia cheinha de roupa lavada e nem sequer punha as mãos a segurar.
Na ilha onde morava, tudo era miséria. Gritos ecoavam por todas as partes, vindos de vozes ásperas e amarguradas. O chão lamacento que cobria o caminho, entrava pela casa adentro, para que não esquecessem nunca a miséria em que viviam. Tudo era lamacento e frio. Zézinho pensava na doçura da sua mãe e sonhava com uma casa nova. Imaginava com alegria os seus irmãos, cada um com o seu quarto, a cheirar a ninho em vez de fritos. Ria sozinho de felicidade com as imagens da sua nova morada.
Era noite de Natal e o milagre acontecia. Depois da magra ceia, Zézinho subiu para o seu mundo. Tirou a telha partida e deixou-se ficar longas horas a observar o céu. Adormeceu com o coração faminto de um presente.
Nessa noite, um enorme temporal se abateu sobre a região. Um espectáculo de luz e cor que mais parecia fogo de artifício a anunciar o nascimento do Menino. Um raio de luz adentrou-se na casa na ilha das casas onde vivia e veio cumprimentá-lo no seu pedacinho de céu. Bateu-lhe ao de leve na face, despertando-o. Zézinho deixou-se envolver por esta aura celestial que de mansinho o convidava a viajar. Podia agora visitar o reino das estrelas que tão bem conhecia. Transportado por essa luz divina, seguiu os seus mais lindos sonhos de menino.
A partir desse dia Zézinho tinha uma nova morada.

Braga, 20 de Novembro de 2002

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Al principio era día

Al principio era día
cargaba amor en mi espalda
lo alimentaba con mis tetas
estaba gordo y luciente
se hice noche
de repente
se hice noche
el amor ha ido a su entierro
dicen que solo ha tenido una hija
se llama tristeza
duerme todos los días
a mi lado

sábado, 20 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Roads Portishead

Tradições




É duro na verdade é
também as touradas.
Foi por estas causas que decidi criar um blog.
Ainda me lembro de estar em Valência por alturas das Fallas e passar perto da arena. Lá dentro uma multidão à pinha gritava, eu sentia um arrepio e ia para casa a olhar o chão.

domingo, 14 de dezembro de 2008

O Presente

Ontem na festinha de Natal dos meninos contei esta história. Na verdade não é um conto de Natal (os pais querem comprar uma prenda de aniversário para Miguelito), mas adaptei-o e funciona lindamente. Presto a minha homenagem aos autores. As pessoas gostaram muito, era uma plateia a perder de vista. Soube muito bem. No final, até um pai com um grande hálito me veio dizer que tinha gostado.

O presente
(Título original el Regalo)
Texto Gabriela Keselman
Ilustrações Pep Montserrat
Adaptação e tradução Amélia Silva

A senhora e o senhor Bonspais sentaram-se no Cadeirão de Pensar. Só se sentavam aí quando tinham que pensar em algo muito importante. Tinham que escolher um presente de Natal para o seu filho Miguelito. Mas não se lhes ocorria nada.
Pensaram e pensaram. Mas o Cadeirão de Pensar era demasiado duro. E pensar era bastante difícil. Assim que, passado um bocado o senhor e a senhora Bons pais tinham três problemas realmente importantes:
uma dor na parte traseira de sentar;
outra, na parte de pensar;
e, o terceiro, é que não lhes tinha surgido nem uma só ideia.
Então decidiram o melhor para todos.
Não pensariam mais.
Iriam procurar o mesmíssimo interessado. Quer dizer, o seu filho Miguelito. E perguntar-lhe-iam. E isso foi exactamente o que fizeram.
- Filhinho, Miguelito, que desejas de presente de Natal?
- Quero um presente muito especial! – respondeu Miguelito.
- Quero que seja muito grande!
O senhor e a senhora Bonspais olharam-se fixamente nos olhos. - Quer um elefante -disseram.
- E quero que seja forte! - continuou Miguelito.
O senhor e a senhora Bonspais deram as mãos. – Quer um levantador de pesos -disseram.
- E quero que seja muito macio!
O senhor e a senhora Bonspais juntaram a ponta do nariz. – Quer um ursinho de peluche - disseram.
- E quero que seja muito doce!
O senhor e a senhora Bonspais pisaram nos pés um do outro. – Quer um saco gigante de guloseimas - disseram.
- E quero que seja quentinho, quentinho!
O senhor e a senhora Bonspais beliscaram-se nas bochechas. – Quer uma lareira - disseram.
- E ainda - insistiu Miguelito – quero que se mova de um lado para o outro! de um lado para o outro! de um lado para o outro!
O senhor e a senhora Bonspais ficaram bastante tontos. - Quer um barco à vela - disseram.
- E também quero que me faça voar!
O senhor e a senhora Bonspais ficaram parasilados como estátuas. – Quer um helicóptero - disseram.
- E quero que me dê vontade de rir!
O senhor e a senhora Bonspais caíram de costas. – Quer um palhaço de circo - disseram.
- E quero que dure muito muito tempoooooooooooo!
O senhor e a senhora Bonspais já não atinaram em fazer mais nada. – Quer um dia grande como um prato de sopa - disseram.
A verdade é que tinham um grande problema. O seu filhos queria algo que fosse grande, forte, macio, doce, quentinho, que se movesse de um lado para o outro, que o fizesse voar, que lhe desse vontade de rir e que durasse muito. Onde iam conseguir um presente tão especial?
Desde logo não era nada fácil. Assim que foram direitinhos ao cadeirão de Pensar. Sentaram-se e pensaram, mas não lhes serviu de nada. Não davam com a solução.
E assim se passou um dia. E dois. E três.
Estava a chegar o grande momento e eles, os senhores Bons pais, ainda não tinham a prenda para o seu filho Miguelito. Sentiam-se desolados… Enfim, estavam muito tristes. Então, levantaram-se do Cadeirão de Pensar e foram falar com o filho.
- Miguelito, filhinho – disseram os senhores Bonspais com uma voz muito triste - ejem, ejem… não encontramos…
Cof, cof…
O presente…
Mjjjj, mjjjj…
Que esperavas…
E como não sabiam o que dizer, deram-lhe um abraço grande, forte, macio, doce e quentinho. Ainda o balancearam de um lado para o outro, o levantaram no ar e fizeram rir e assim estiveram durante um tempo interminável.


- Era mesmo o presente que eu queria! – suspirou Miguelito.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

do coração e de outras

Sim, dizias-me que já sabia tudo, que tinha problemas do coração. Ou no coração.
Entreolharam-me. Dei um sorriso pálido. A verdade é que falavas diferente, vestias diferente com esse chapéu à Panamá e os pêlos do pescoço a lembrar um galo. Tinhas razão.
Depois pediste para pensarmos na pessoa que nos contava histórias de pequenos.
Agora não gosto das histórias que me contam.
Não sei se viste correrem as lágrimas.
Eu vi-a. Segurava-me a mão e eu sentia-a rugosa. As veias como montes e as manchas no lugar onde eu as recordava. Fiquei pequenina.
E tu continuavas e eu já não te podia acompanhar. Conta outra vez conta outra vez! É para isso que contamos histórias, dizias.

sábado, 6 de dezembro de 2008

La verdad de hoy

La humanidad entera comparte tus reacciones. Tu cerebro ha evolucionado durante siglos, antes de pertenecerte.
Nos preguntamos muy seriamente si existe en verdad un individuo. Cada uno de nosotros es la humanidad entera.

Krishnamurti

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

I believe in Father Christmas

http://es.youtube.com/watch?v=6W9pyWEN60o

They said there'll be snow at Christmas
They said there'll be peace on earth
Instead it just kept on raining
With tears for the virgins birth
I remember one Christmas morning
A winters light and a distant choir
And the peal of a bell and that Christmas tree smell
And their eyes full of tinsel and fire

They sold me a dream of Christmas
They sold me a silent night
And they told me a fairy story
'Till I believed in the israelite
And I believed in Father Christmas
And I looked at the sky with excited eyes
'Till I woke with a yawn in the first light of dawn
And I saw him and through his disguise

I wish you a hopeful Christmas
I wish you a brave New Year
All anguish, pain and sadness
Leave your heart and let your road be clear
They said there'll be snow at Christmas
They said there'll be peace on earth
Hallelujah Noel be it heaven or hell
The Christmas you get you deserve

Hoje vi Deus

Estava encostado à parede. Os cabelos escorriam-lhe como torrentes pelas (en)costas. O casaco escuro igual ao de Drácula menos no forro. O rosto branco obscuro e o nariz oblíquo oblongo e carrancudo. Não me recordo dos olhos acho que não os cheguei a ver. Eu escalava as escadas longas altas e sem fim. Ele encostado ao lado direito. Eu continuava a subir e ele ficava para trás. Não gosto de te ter por trás. Prefiro quando estás à frente ou ao lado. Por dentro também atrás não. Os cabelos eram pretos de penumbra e quase varriam o chão. O nariz oblíquo, oblongo e carrancudo não era tal como eu tinha imaginado. Esperava-te no alto com os cabelos e as barbas a ondular o chão como ondas de espuma. E o nariz carrancudo aberto num sorriso e os braços também. E os olhos azuis como os do teu filho que vemos nos filmes. Mas não foi assim e davas medo e eu vi-te à minha imagem com os teus cabelos negros e a cara sinistra. E eu só a vi de lado.
Pega nos teus cabelos e transforma-os em fios de oiro e o teu nariz oblíquo, oblongo e carrancudo deixa-o cair pelas escadas. Despe o escuro cinza do capote e deixa-te ficar desprotegido.
Eu continuo a subir e já vejo a ogiva da tua catedral e estás à minha espera tal como eu imaginei e dás-me os fios de oiro e pedes-me para os distribuir aos pobres mas não me apetece voltar.

domingo, 30 de novembro de 2008

Hoje acordei com vontade de escrever

No nosso país não pensava existir. Mas vi com estes olhos e tu também viste porque te contei tal qual como foi. Foi lá para baixo como quem desce para o rio Douro. Vinha a subir para apanhar o comboio. Acho que era isso. E eles estavam encostados ao muro e eram muitos. Eu ia a passar que não tenho medo de gente. Ia a passar e sentia-lhes o cheiro de quem dorme vestido e nesse instante as armas dispararam e vi os buracos abrirem-se nos corpos e não era uma só bala eram muitas como se quisessem juntar os buracos e abrir uma cratera para ver para o outro lado. Mas os corpos tombaram ou não sei muito bem o que lhes aconteceu, penso que tombaram e eu encolhi-me e encostei-me ao muro e fechei os olhos mas já tinha visto. Lembro-me que pensei, tenho que tomar banho, não vá ter-me caído alguma faúlha de sangue. E as faúlhas caíam por toda a parte e os outros achavam normal e eu queria passar e agora tinha medo. Pensei que se o mundo acabasse ainda bem que no meu prédio havia uma loja com verduras e frutas que ocupava vários andares e eu teria sempre que comer. Procuraria entre os escombros e teria o que comer. A minha gata também. Ela estava ferida numa pata mas ia ficar boa. Depois podíamos sempre deslocarmo-nos montados em garrafões desses de plástico que dava para encher de água quando a encontrássemos. O pior é quando os cadáveres começassem a cheirar mal e eu sozinha para os enterrar e a minha gata que não ajudava nada e eu queria lavar-me mas agora a água estava toda conspurcada.
Mas ainda não era o fim era só uma execução mas o fim estava próximo. Pensava que no nosso país (não) estavam proibidas as execuções. É que são reincidentes diziam e eu pensava em que raios teriam reincidido. Tive a ideia de ir para a televisão falar de amor ao próximo e tolerância e compaixão e atirar-me-iam ovos podres e tomates ou no mínimo mudariam de canal talvez se eu chamasse a atenção como aquela apresentadora de telediário que se ia despindo à medida que lia as notícias e eu podia ir-me desabotoando lentamente como se não tivesse dedos nem braços e falar de amor. Era capaz de ser mal entendida. Podia começar a masturbar-me em frente às câmaras e gritar venham, juntem-se a mim nesta luta. Seria mal entendida.
E ali continuava sem conseguir passar e o ambiente que sentia era de terror e eu a pensar que no nosso país não havia execuções mas estava enganada.

Hoje acordei com vontade de escrever

Vou meditar, sentar-me imóvel e não pensar em mais nada. Como a minha cabeça não me deixa à parte de meditar faço de tudo preparo aulas vejo a última vez que fizemos amor e a minha cabeça não me deixa chegar ao poema. Não vejo nada está tudo cinza de verdade. Talvez melhor trocar de cabeça talvez a do primeiro ministro oca mas aí a ambição se espalharia por todo o corpo ou a de um desportista um piloto de fórmula um para morrer cremada ou a de uma bailarina russa com um nome terminado em kov e a bailar como um cisne. A de Fernando Pessoa seria uma experiência interessante e assim podia escolher sabes que escolheria a que fala de árvores e flores e montes e Deus e tudo que é a mesma coisa e metido nela podia escrever à luz dos nossos dias que é a mesma coisa só com a diferença de estarmos mais à beira do fim. Mas não tenho remédio se não carregar esta cabeça que já carregou piolhos e lêndeas e a minha avó costumava pentear-me com um pente de dentes finos para cima de um pano que punha ao colo e eu via-os depois entre as unhas esmagados e agora sei que era o barulho da quitina. Hoje carrego o presente o passado e o futuro que ainda está para vir onde imagino que carregarei um passado que não pára de aumentar. Mas uma cabeça que me serviria bem era a de uma mulher-a-dias com o ruído do aspirador que não me deixaria pensar ou a daqueles homens que indicam o sítio da aterragem dos aviões e que com umas pás acenam bem-vindos eles que protegem os ouvidos como se vivessem no gelo como se lhes adiantasse. A de um surdo-mudo é que não me convinha todo o dia a ouvir-me por dentro e sem puder deitar para fora à parte da palavra escrita liberdade a de um cego é bem pior na de um cego não se vê mesmo nada para fora e para dentro não sei. Talvez fosse esta a que me convinha mas tenho medo de ficar a sós.

sábado, 29 de novembro de 2008

la voz de Dios en la voz de Antony



http://www.youtube.com/watch?v=1MDlMdu2gjw

If It Be Your Will
Leonard Cohen

If it be your will
That I speak no more
And my voice be still
As it was before
I will speak no more
I shall abide until
I am spoken for
If it be your will


If it be your will
That a voice be true
From this broken hill
I will sing to you
From this broken hill
All your praises they shall ring
If it be your will
To let me sing
From this broken hill
All your praises they shall ring
If it be your will
To let me sing


If it be your will
If there is a choice
Let the rivers fill
Let the hills rejoice
Let your mercy spill
On all these burning hearts in hell
If it be your will
To make us well


And draw us near
And bind us tight
All your children here
In their rags of light
In our rags of light
All dressed to kill
And end this night
If it be your will


If it be your will.

sábado, 15 de novembro de 2008

Antony and the Johnsons - Child of God



Esta música diz tudo o que há para saber. É simplesmente genial.

A arte de ser feliz

Cecília Meireles

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Another song

I’m a cloudy heart
And the rainbow is grey
I’m a cloudy heart
I’ve swallow a hurricane
I’m a cloudy heart
I’m a cloudy heart
And I’m looking for pain

Should I look for the sunshine
When all I want is pain
I can’t bear happiness
I can’t stand a smile
It’s so bright and warm
And I’m not ready know
I’m not ready
I’m not ready
I’m not ready
‘cause I only have grey
that’s the rainbow I love
it’s a one colour rainbow
for a one colour heart

maybe some day
I’ll learn to paint
The true colours of my heart

maybe some day
I’ll learn to paint
The true colours of my heart.

domingo, 2 de novembro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Para quem me visita de novo... e de velho

GERÊS

Quando me levantei
já as minhas sandálias andavam
a passear lá fora na relva


Esta noite
até os atacadores dos sapatos
floriram

DIÓSPIROS

Há frutos que é preciso
acariciar
com os dedos com
a língua

e só depois
muito depois

se deixam morder

(in "O Poeta Nu", Jorge Sousa Braga)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tenho andado afastada da Blogosfera mas não estou triste Now I´m a songwriter

Thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me

You’re mean mother
You’re mean father
You were so mean to me

You turn me into peaces
When I was just a little girl
I was just a little one
You’re mean mother
You ain’t give me love
You’re mean father
You gave me too much love

But thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me
Later when others did
It was really much easier

Now I’m a woman
A grown up woman now
I took every peace
And I invented me

So thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me

I became a fairy
To escape the pain
I stayed too long in wonderland
So I became a fairy
Living in this unfair world

Thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me

I’m not mean, I’m a good one
I became a fairy
Straggling the unfair
In this inhuman world.

Inspirado no "Segundo do Fim" de João Negreiros

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

De mim não posso fugir, paciência

De mim não posso fugir, paciência
sonhos dormidos e despertos
não posso fugir
fumas um cigarro num ruído de fogo e escarros
picas a garganta de punho fechado
entras sem bater
pelas narinas finges-te pequeno
faço-te grande e vejo-O em ti
tenro e terno
eu nua e crua
e a loucura não me deixa, paciência

sábado, 6 de setembro de 2008

Were was I for those silence ten days


Casa Karuna Serra de Monchique
Metta! Metta!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Three angels

I’ve been touched by an angel
he had you’re name

I was touched by some angel now
you were in it

An angel just touched me
didn’t you?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Quando eu nasci,
as frases que hão-de salvar a humanidade
já estavam todas escritas,
só faltava uma coisa:
salvar a humanidade.

Almada Negreiros
"A invenção do dia claro"
Fecho os olhos por instantes
abro os olhos novamente
Neste abrir e fechar de olhos
Já todo o mundo é diferente

António Gedeão

terça-feira, 12 de agosto de 2008

With Or Without You (Popmart Live From Sao Paulo)

You still owne my heart, so please be gentle.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Mudança de casa


Mudança de casa, sabe como é, né? Na dá tempo pr'a mais nada!

sábado, 26 de julho de 2008

2 semanas e meia

O grupo em versão reduzida
Estas duas semanas em Cuenca não se podem definir. Foram largas, larguíssimas e muito curtas também. Intensas e reveladoras. Fico-me com as recordações das gentes. Salamanca estava tão bem auxiliada desde arriba e Valência nem falar. O Brasil, ó gente maravilhosa! Vigo, S. Tiago de Compostela, Canárias, Albacete, Barcelona, Madrid, Ávila, Santander... e Cuenca, claro, queridas Ana e Paula. México, que lindas as pessoas do México, tenho um pedacinho daí, Colombia, Chile, Argentina, que linda gente! E como todos gostam de Portugal, de Saramago, da comida, do fado, fiquei impressionada. Jurei a Toity que iria ter classes de canto. Afinal o meu fado sou eu quem pouquito a pouco o vai construindo. Sim, porque eu cantei. Foram os meus primeiros aplausos. E um bater de asas de coruja.
Marcaram-me os 3 anjos e um maneta chifrudo na praça das angústias. Uma clown e a árvore, o homem e o caminho.

Cuentame un cuento Conta-me um conto 4

O espectáculo terminara. Passamos a comentar a experiência. Estavamos impressionados. Um turbilhão de emoções ilustradas numa tela. A máscara caía e o artista apresentava-se nu aos nossos olhos. O tema voltou às férias. Sim, gostaria de os acompanhar aí um dia. O meu pai vivia agora em Luanda e gostaria muito de o visitar. Nasci e cresci com o cheiro desse país sem nunca o ter conhecido. Ao longe pede-me uma visita. Nesse mesmo instante veio-me à cabeça o livro. O artista desmascarado parecia agora um gigante de olhos rasos. Um grupo de pessoas da mesa ao lado chamavam-no. Pauline. Pareceu-me ouvir esse nome. Era o livro a dar-me volta à cabeça.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Cuentame un cuento Conta-me um conto 3

Uma estrela descendente acende a noite. Há muito tempo que não via um pirilampo. Quando era criança e brincava às escondidas sempre aí estavam a fazer-me companhia. De tanto iluminarem tinha medo que revelassem o meu esconderijo. Pauline. O título não me despertava sensações. Parecia ser o nome de uma mulher. O artista continuava a compor a sua tela. Abstracto, sim, era abstracto o que fazia. Transmitia agitação, igual à música que o acompanhava. Talvez eu estivesse a precisar dessa agitação. A minha vida estava a entrar na zona cómoda de onde sempre me tinha escapado.
A minha amiga falou-me baixinho ao ouvido. Que lês, perguntou. Nada, é um livro daqui. Não o posso levar porque não tenho outro para troca. Voltarei por ele. Acenou com a cabeça que entendia. Na verdade estava com muita curiosidade de passar os olhos pelo livro.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Compromisso

Cuenca, Plaza Mayor Foto de Javi

Receta

Abrazar un árbol todos los días

Cuentame un cuento Conta-me um conto 2

Chegavam os meus amigos. O diálogo com o livro terminava mesmo antes de começar. Via-os bem, felizes. Eu também estava muito contente de os abraçar. Contamos novidades. Sim, estava de regresso definitivo. Tão cedo não tinha intenções de sair do país. Esta alma lusitana que me tem cativa. Sacaram o seu portátil e começaram a mostrar-me as fotos das férias. Gente seminua misturava-se com uma natureza exuberante. Carapinhas e sorrisos desmesurados que pareciam chorar. Estava impressionada.
Ali estava o livro abandonado em cima da mesa. Na verdade tinha muita vontade de ver do que tratava. Passei as mãos pela capa. Era de tecido áspero. Senti a tela que o envolvia, de um creme sujo, gasto pelo tempo. Em baixo relevo estava esculpido o título. O artista seguia com os seus frascos de tintas multicolores. Ia-as combinando na enorme tela ao som da música. O cheiro a químicos resultava um pouco desagradável. Menos mal que estavamos ao ar livre.Os meus amigos adivinharam-me os penasmentos. Entreolhamo-nos e sorrimos. Logo voltamos a admirar a criação espontânea que ia surgindo.
Com os dedos percorri cada letra. Pauline.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Cuentame un cuento Conta-me um conto 1

Este é o começo de uma aventura que não sabemos onde irá acabar. Para já vai apenas começar. Espontaneamente irá saindo e crescendo. Sem rascunho. Espero divertir e divertir-me com este improviso.

E assim começou. Uma ronda de livros entre desconhecidos. Numa pequena associação havia começado um projecto de troca de livros. Chamava-se ronda de livros e cada um podia levar livros livremente para casa a câmbio de deixar outro. Nessa noite fui tomar uma cervejita com os amigos. Ia ver um ilustrador que compunha ao som da música. O espectáculo estava atrasado. As prateleiras de livros estavam por todas as partes. Esperava os meus amigos e observava-os. Ia passando os olhos e reconhecendo alguns; o vermelho e o negro, a jangada de pedra, o crime do padre amaro. Uma grande variedade. Estava de verdade com vontade de pegar algum poema enquanto esperava. Mas de entre todos, um me chamava. Quando dei por mim já tinha o braço estendido e estranhamente sentia que o livro me esperava. Queria-me com todas as suas forças. Olhei a capa. Mas que livro era este que me queria tanto?

O Pomar das Laranjeiras - Madredeus

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Assim é mais fácil de entender

Triste é o virar de costas, o último adeus
Sabe Deus o que quero dizer

Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou,
e se ao menos tudo fosse igual a ti

Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se falasse era fácil de entender

É o amor, que chega ao fim, um final assim,
assim é mais fácil de entender.

Trocito de Fácil de Entender, The Gift
Me pellizcas
y preguntas
eres de verdad
pero si soy así de buena
porqué este vacío
que no se llena ni de mi
ni de nada.

domingo, 20 de julho de 2008

Homenaje a ti

Mi vida ahora se mide en el
antes de ti
y
después de ti

Gracias por haberme dado tanto.

sábado, 19 de julho de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Hoje os meus olhos reclamam o sabor que vai nos teus

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Venenos de Deus, Remédios do Diabo

Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias. Aos 20 anos dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias. Aos 30 anos pensamos que ninguém mais tem ideias. Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas. Aos 50 pensamos com suficiente sabedoria para já não ter ideias. Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar. Aos 70 só pensar já nos faz dormir. Aos 80 só pensamos quando dormimos.

Fala de Bartolomeu Sozinho, personagem de Venenos de Deus, Remédios do Diabo, de Mia Couto, Editorial Caminho.
Una caricia es una palabra que no se enfría nunca.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A minha filha adoptiva

É a que tem a língua de fora. Ainda não sei o nome que irá ter. Primeiro tenho que estar com ela para lhe perguntar!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

¡Una joya!

Descripción de un mamífero o un ave

El pájaro del que voy a hablar es el búho. El búho no ve de día y de noche es más ciego que un topo.
No sé gran cosa del búho, así que continuaré con otro animal que voy a elegir.

La vaca

La vaca es un mamífero. Tiene seis lados: el derecho, el de la izquierda, el de arriba, el de abajo; el de la parte de atrás tiene un rabo del que cuelga una brocha. Con esta brocha se espantan las moscas para que no caigan en la leche.
La cabeza sirve para que le salgan los cuernos y además porque la boca tiene que estar en alguna parte. Los cuernos son para combatir con ellos. Por la parte de abajo tiene la leche. Está equipada para que se la pueda ordeñar.
Cuando se la ordeña, la leche viene y ya no se para nunca. ¿Cómo se las arreglará la vaca? Nunca he podido comprenderlo, pero cada vez sale con mayor abundancia.
El marido de la vaca es el buey. El buey no es un mamífero porque no tiene mamas. La vaca no come mucho; pero lo que come, lo come dos veces, así que ya tiene bastante.
Cuando tiene hambre y cuando no dice nada es que está llena por dentro de hierba.
Sus patas le llegan hasta el suelo. La vaca tiene el olfato muy desarrollado, por lo que se la puede oler desde lejos. Por eso es por el que el aire del campo es tan sano.

Niño de 8 años.

Here I Go Again!

Here i go again, oh Go(o)d! My mum said, don´t you do that again! My friends told me that too. But it' s too late.

I LET LOVE IN I LET LOVE IN

Rodrigo Leão


Que saudades da minha musiquinha!

domingo, 13 de julho de 2008

La ciudad de las mariposas

Vivo no campo. Ontem quase desprezei a cidade. Ao chegar à estacão de autocarros e ver toda aquela confusão, uma cidade desorganizada, feia e cheia de lixo; gente muito agitada e os carros a alta velocidade com a música aos berros, pensei, oh my good. Eu que vinha de Salamanca onde tudo é muito lindo, organizado e limpo. Hoje acordei e vi que afinal vivo no campo. A universidade de Cuenca onde estou fica perto de um bosque. Ouvi sapos durante a noite e hoje vi centenas de borboletas como nunca em toda a minha vida. Seria uma maravilha para o nosso amigo Maravalhas. E hoje sim, percebi porque é património da Humanidade, é que o casco antiguo não tem nada que ver. Uma encosta sulcada por dois rios, monumentos belíssimos e formas de erosão de encantar. Que interessante seria ter vivido aqui nos sécs XVII-XVIII onde estaria ainda tudo em bom estado e os rios limpos. Hoje sim, estou-me a deixar apaixonar pela cidade das mariposas.

Alegria


Jesús Otero Iglesias, Museu de Arte Contemporânea de Cuenca

Um eco

Um nome que corre
baixinho
como um murmúrio
um eco eco eco
um nome como um soco
nos lábios que o articulam
um nome
nauseabundo entre os nausabundos
um nome qualquer
feito de todos os nomes
um nome
que envenena a língua
e deita por terra todos os teus sonhos.
Um nome a apagar
dor por dor
a tragar
letra por letra
um nome que AMANHÃ
serás capaz de dizer
e repetir e repetir
na batida deste poema
como um eco eco eco
um nome
que é apenas um nome
onde cada letra é um gume
cada vez menos
cada vez menos
afiado
um nome que já és capaz de pronunciar
porque o AMANHÃ
é já o AGORA.

sábado, 12 de julho de 2008

¡Fotos! de Salamanca

CASA DAS CONCHAS (vista aérea)

A CATEDRAL (vista aérea)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

La despedida II

Hace poco el cielo de Salamanca empezó a llorar.
A lo mejor ya sabe que me voy.

La despedida

Huí de ti con miedo a no encontrarme sola.
El viernes de Salamanca

morcegos e cegonhas

Não sei o que passou ontem à noite. Um português de S. Tomé a contar contos e um guineense a tocar Kora. Griotizando, se chamava o espectáculo. No claustro da Casa das Conchas olho o céu. Negro já com o cair da noite. Negro e quente. Vejo morcegos a bailar e cagonhas brancas a bater castanholas ao som da música. Nos meus ouvidos vai entrando a história do Zé Manel. Eu o prenunciava correctamente na minha portuguesice. Eu também já estive em S. Tomé e vi esse pássaro despertador que toca castanholas com as asas. Voei até à minha cama e dormi profundamente. De manhã não sabia muito bem o que se tinha passado.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Pessoa sempre presente

Casa das Conchas, Salamanca

quarta-feira, 9 de julho de 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Memória das Minhas Putas Tristes

"O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança."

Gabriel García Márquez

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ilusión

Un árbol reducido a su tronco. ?Qué ve el niño? Una ilusión, unos brazos tendidos, dispuestos a presarle. Para el hombre que llega de un rincón de la calle en busca de su amada el tronco es, por un momento, la silueta de ella. Un policía verá en él un ladrón. El ladrón, un policía.
El mismo tronco de árbol puede ser visto de diferentes maneras.
El tronco de árbol es la realidad, y las visiones del tronco son las proyecciones de las diversas mentes.
Existe un solo ser, el selft, que es inmutable.

Swami Vivekananda

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Como um romance

O verbo ler não suporta o imperativo. Tal como o verbo amar, sonhar. Não se pode exigir que se ame, como não se pode obrigar a que se leia. Assim começa o autor este “romance”.
“É preciso ler”.
Este livro ajuda-nos a ver que o prazer de ler não está muito longe, que é fácil de encontrar, pode apenas estar escondido.
“É preciso ler”.
Ensina-nos a perceber que caminhos podemostomar para o encontrar. E parece tão simples.
“É preciso ler”.
Como a historinha que é lida todas as noites, sem se exigir nada em troca, como se de um presente se tratasse.
“É preciso ler”.
Criar o desejo de aprender sem esperar contrapartidas, sem nos apressarmos em obter resultados. E parece tão simples.
“É preciso ler”.
Neste pequeno livro que se lê como um romance, o dogma: “É preciso ler! É preciso ler!”, é transformado em: “É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
“É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
Dirigido a todos os que querem ser bons pedagogos, sem grande preocupação com pedagogia nenhuma. Aos profetas da desgraça, que culpam a televisão e os jogos electrónicos, este livro não dá a mínima importância.
“É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
O autor termina com os 10 direitos do leitor, direitos de que nos valemos a nós próprios e que são válidos também para os nossos filhos, os nossos alunos, os nossos jovens. Vai ficar surpreendido.
1- O direito de não ler – muitos não lêem porque disso não sentem necessidade, sem que por isso se tornem menos “humanos”.
2- O direito de saltar páginas – porque nos apetece, pelas razões que são só nossas.
3- O direito de não acabar um livro – pôr o livro de lado para um dia voltar a ele ou não.
4- O direito de reler – a alegria de saborear as mesmas palavras com novas descobertas.
5- O direito de ler não importa o quê - bons e maus romances, ao gosto de cada um.
6- O direito de amar os “heróis” dos romances - deixemo-nos levar pelas emoções!
7- O direito de ler não importa onde - sim, mesmo nas latrinas.
8- O direito de saltar de livro em livro - abrir os livros e debicar aqui e ali.
9- O direito de ler em voz alta - dar vida aos livros, colocar as palavras na boca antes de as meter na cabeça.
10- O direito de não falar do que se leu - aqui exerço este meu direito e mais não digo.

PENNAC, Daniel (2002): Como um romance. Porto: Asa Editores.

Discurso!

Discurso do Ministro Brasileiro da Educação nos EUA...
Este discurso merece ser lido, afinal não é todos os dias que um brasileiro dá um 'baile' educadíssimo aos Americanos...
Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência em alguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam Buarque:
'De facto, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia.
Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!'
ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO. AJUDE-NOS A DIVULGÁ-LO porque é muito importante ... e porque foi CENSURADO!

terça-feira, 24 de junho de 2008

O velho e o mar

Acabadinho de reler. Ummm... que boa maneira de aproveitar o feriado.



As atrocidades

God visits all lost soulsTo survey the damageWe noticed a bonfireBurning in his eyesHe whispered'It's the atrocities of your storyOf your story'God visits all lost soulsTo survey the damageAnd holding his bleeding heartA tear comes to his eyeHe whisperedIt's the atrocities of yourHistoryOfyour HistoryOfThenhefallstothe floorForthere's many more tears on the sunriseAnd now we must eat those tearsNow we must eat our fillOf the AtrocitiesThe AtrocitiesThe AtrocitiesThe Atrocities .
Antony and the johnsons

Veja o filme, se tiver coragem, é muito duro e assine a petição.
São as atrocidades as atrocidades
http://www.petatv.com/tvpopup/video.asp?video=fur_farm&Player=wm&speed=med

sábado, 21 de junho de 2008

Querido pai

Chegaste bem queimadinho de sol e de saudade. no mesmo avião chegaram as estrelas da selecção. tu és a minha estrela. à sua espera tinham dezenas de pessoas. tu tinhas-me a mim e demais família. bateram-lhes muitas palmas e eu dei-te muito beijinhos e abraços. quero-te muito bem. obrigada por teres feito de mim a pessoa que sou hoje. obrigada por cada dia em que acordo abro os olhos e vivo.

BOAS FÉRIAS MEUS AMORES

Último dia marcado por dezenas de abraços apertados, bem bem apertadinhos e beijinhos de tirar o fôlego! Obrigada por tanto carinho. Amo-vos muito a todos. Sois a minha luz.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

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a alegria de passar os dias inteirinhos a brincar!

já decidi. no próximo ano lectivo começa o primeiro passo para a mudança definitiva. olha só como é bom viajar nas bolinhas de sabão.
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a princesinha

afinal não resistiu, mas prolongou por algum tempo a alegria de viver. obrigada a todos os amigos.
talvez adopte a querida mãe que a acolheu com tanto carinho. chama-se kinder e é very kind.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

vai ficar bem

parece que vai ficar bem. foi adoptada por uma linda mãe. como todas as mães. ganhou quatro irmãos. um pretinho e três branquinhas. a minha princesa é tigrada como um lince. vai ficar bem. um destes dias revelo-a. obrigada a todos os amigos.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

força de viver

hoje encontrei uma princesa, melhor, encontrei-a ontem. hoje reencontrei-a. toda melada ainda com o cordão umbilical e a placenta como uma pasta de sangue. cantava como uma águia a chamar pela mãe. eu vi-a. é uma menina, disse-me hoje o Paulinho. e quer muito viver. eu vou cuidar de ti princesa, até já falei de ti aos meus meninos. todas as nossas energias irão ajudar-te. vais ficar bem. até logo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

não sei bem

não sei bem o que escrever, mas hoje apeteceu-me e sem rascunho. é para dizer que estou muito feliz, todos os dias partilho os meus minutos com pessoas muito especiais, todos os dias recebo muitos abraços e beijinhos e sorrisos, estou a ficar com muitas rugas nos cantos da boca. só para dizer que te amo. a ninguém em especial, mas todos quantos se cruzam no meu caminho. amo todos vocês.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

NICK CAVE



NOMINATED FOR THE BEST SONG OF THE YEAR! UAU!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

domingo, 4 de maio de 2008

A minha mãe











A minha mãe é fofa como uma nuvem (criança de 8 anos)




sábado, 26 de abril de 2008

26 de Abril

Debemos creer en esa alma gloriosa. De ella vendrá la fuerza. Te conviertes en lo que piensas. Si te crees débil, serás débil. Si te crees fuerte, serás fuerte. Si te crees impuro, serás impuro. Si te crees puro, serás puro. No debes creerte débil, sino fuerte, omnipotente, omnisciente. Aunque yo no lo haya experimentado todavía, está en mí. Todo el conocimiento está en mí, toda la fuerza, toda la pureza, toda la libertad. ¿Por qué no puedo expresar ese conocimiento? Porque no creo en él. Si creo en él vendrá a mí.

Swami Vivekananda

In Sabidurías, 365 pensamientos de maestros de la India
Un regalo de Javi, mi amigo de toda la vida.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

deixa lá

Ouvindo Antony (agora não oiço mais nada, Antony, Nick e Leonard, a trilogia perfeita), lembro-me muito bem do que disseste. Sim, o teu pai matou-o porque só fazia asneiras, deitava o poleiro abaixo e tudo. Os teus olhos diziam que devias pensar que o que fez foi certo, querias convencer-te, por isso repetias para ti mesmo, só fazia asneiras. Mas eu vi a tua indignação, o teu profundo desgosto pela profunda ignorância do teu pai. Perdoa-o e um dia não sejas como ele. O pássaro já lhe perdoou há muito. Os pássaros são assim. Tens 120 vacas, não é? Isso é muita vaca. Ajudas o teu pai, muito bem, não há mal nenhum nisso. Talvez possas aprender mais com as vacas. Eu só espero estar à altura de vocês. Ponho o meu coração nas minhas e nas vossas mãos.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

I LET LOVE IN I LET LOVE IN

!You´re so, so cool! You´re so fucking cool!
Thank you for playing the old (new) songs
OBRIfuckinGADO

You´re a great storyteller, terror fairy tales, the best!
OBRIfuckinGADO
Nick Cave and The Bad Seeds
Coliseu do Porto, 22 de Abril

A borboleta Leonoreta que às vezes é meia cegueta

É tão bonito estar com vocês, ouvir-vos. Cada um conta a sua história. Os gatos pretos são maus e trazem azar. A minha avó deitou uns cãezinhos a afogar. O meu irmão apanhou um coelho bravo e meteu-o numa gaiola. Ele deu tantos saltos contra a parede que ficou com a cabeça cheia de sangue e toda partida. Eu oiço-vos. Trocamos ideias, palavras, afetos. Amo-vos muito. Sois a razão do meu viver. Sóis.
és tu
és tu quem amo
subtraindo em ti
o que não amo
és tu quem amo.

já não és tu.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

ANTONY & THE JOHNSONS You Are My Sister

You are my sister, we were born
So innocent, so full of need
There were times we were friends but times I was so cruel
Each night I'd ask for you to watch me as I sleep
I was so afraid of the night
You seemed to move through the places that I feared
You lived inside my world so softly
Protected only by the kindness of your nature
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
We felt so differently then
So similar over the years
The way we laugh the way we experience pain
So many memories
But theres nothing left to gain from remembering
Faces and worlds that no one else will ever know
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
I want this for you
They're gonna come true (gonna come true)

http://www.youtube.com/watch?v=S-NziGE6DVY&feature=related

quarta-feira, 9 de abril de 2008

que bonito

Fuemos novios
fuemos novios
nos besamos nos amamos
fuemos novios
que bonito
la vida sigue su curso

I am a bird girl

quinta-feira, 27 de março de 2008

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

é preciso não esquecer

As ideias não têm dono
estão aí para serem colhidas
A menina pensa demais
sim, a menina pensa demais
É bonito, é bonito, é bonito
se não fosse a menina pensar demais
é porque não era a menina
el cielo de que vos hablo
lo he conocido por poco tiempo
brilla mas que el firmamento
las estrellas se avergüenzan
ilumina a su mundo
ilumina otros mundos
el cielo de que vos hablo
ha nacido para brillar
muy alto muy alto
y con su calorcito
encender a otros cielos

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Echar de menos

Echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
tus manos heladas
echo mucho de menos
tus apretones
echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
cuando cantas
echo mucho de menos
tu nariz que antes se movía
echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
ver una peli abrazadita
echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
tus padres
mis amigas
la baba de pedro
nuestra huerta
las coles gallegas y calabazas
tus postres
el olor de jazmín
la cueva de l’águila
mirar las estrellas
coger higos
el parc túria
mi bici roja
te echo mucho de menos cielo
vos echo mucho de menos Viky y José
vos echo mucho de menos Laura, Dany, Ester y Rafa
te echo mucho de menos Leyla
te echo mucho de menos Vaida
te echo mucho de menos Ana Claudia, Amparo y Lola
te echo mucho de menos Adriana
vos echo mucho de menos Lola y Majé
we’ll see each other soon
someday somewhere

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Érase una vez una hada
que queria ser persona
y hada
y persona
y hada
y persona
y hada
y persona
otra vez

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Adeus que me vou embora

Adeus que me vou embora
Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Adeus que me embora vou
Vou daqui para a minha terra
Vou daqui para a minha terra
que eu desta terra não sou
que eu desta terra não sou

Tenho minha mãe à espera
Tenho minha mãe à espera
Cansada de me esperar
Cansada de me esperar

Naquela encosta da serra
Naquela encosta da serra
Vamos ser dois a chorar
Vamos ser dois a chorar

À espera tenho o meu pai
À espera tenho o meu pai
aos anos que não vejo
aos anos que não vejo
O tempo que vai durar
O tempo que vai durar
O meu abraço, o meu beijo
O meu abraço, o meu beijo

Vim solteiro e vou solteiro
Vim solteiro e vou solteiro
vou livre de corações
vou livre de corações
Se alguém me quiser prender
Se alguém me quiser prender
já não vou dizer que não
já não vou dizer que não
Adeus que me vou embora
Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Adeus que me embora vou

António Variações

está tudo conforme, obrigada António, só muda o se alguém me quiser prender, seguramente vou dizer que não.
Hoy
se habla por los perros
se cumplimenta por los perros
se aboceta una sonrisa
por los perros
si no fuera por los perros

que seria de sus dueños

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Pequeno poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Bird Girl

I am a bird girl now
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly
Bird girls can fly

Antony and The Johsons

Jesus

Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse:
- Sei um ninho!
A mãe levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder à Mãe, ou para acordar o Pai, repetiu:
- Sei um ninho!
O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também.
A criança, então, um tudo-nada excitada, contou. Contou que à tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no lato, numa galha.
A mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo.
Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima.
De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a mãe inquieto, com a respiração suspensa, a ouvir.
E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Firmava primeiro os braços; e só então as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rija.
A subida levou tempo. Foi até preciso descansar três vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já só vergônteas as pernadas da ponta.
Transidos, nem o Pai nem a Mãe diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, à crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado. O ninho tinha só um ovo.
Aqui, o menino fez parar o coração dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu fosse viver na terra, sem precisão dos braços cautelosos agarrados a nada. E ambos viram num relance o pequeno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chão duro e mortal de Nazaré.
Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, não caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simples calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera lá de dentro um pintassilgo depenadinho.
E o menino contava esta maravilha com a sua inocência acostumada, como quando repetia a história de José do Egipto, que ouvira ler a um vizinho.
Por fim, pôs amorosamente o passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho.
A ceia acabou num silêncio carregado. Só depois, à volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno não entendeu. Mas para quê entender palavras assim? Queria era guardar dentro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olhar cheio de deslumbramento os dedos da Mãe, que, alvos de neve, fiavam linho.
E tanto se encheu da imagem do pintassilgo, tanto olhou a roca e o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que daí a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mãe.

TORGA, Miguel (2002). Bichos. Lisboa: Publicações D. Quixote. Págs. 73 a 75.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008


Quero dizer que a amo e que a quero ver feliz. Dizer que a quero proteger e que me proteja. Que me pegue ao colo, que me acaricie o cabelo e me diga palavras bonitas. Que me escute, quero que me escute. Que me segure a mão e me diga: está tudo bem, tranquiliza-te, sossega, dorme. E eu adormecer no seu regaço.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Adeus, gasolina!


Era uma vez um país à beira-mar, com florestas, campos, cidades e gentes. Rasgado por estradas, cortado por ruas, cheio de automóveis por toda a parte. Os jardins tinham sido alcatroados para parques de estacionamento. As estátuas deitadas abaixo para erguer bombas de gasolina.
Grandes petroleiros aportavam ao cais, carregados de petróleo que grandes refinarias transformavam em gasóleo, gasolina, que, por sua vez, grandes autotanques levavam até às grandes estações de serviço.
Os sapateiros remendões tinham deixado de trabalhar porque já ninguém se lembrava de andar a pé. Em vez de se gastarem solas, gastavam-se pneus.
Os meninos ficavam fechados em casa para não serem atropelados e, de rastos nos corredores, brincavam com automóveis-miniatura.
Longe, muito longe, do outro lado do mar, havia outros países com suas gentes. Aí estoiravam bombas no deserto escaldante, furado de poços de onde saía o petróleo. Morriam homens por um palmo de terra ou por uma ideia. E como a única riqueza que possuíam era o petróleo, deixaram de o fornecer aos países inimigos.
Os petroleiros, então, partiam e passavam a voltar vazios. Os autotanques paravam junto ao cais, vazios; bichas enormes se formavam junto às bombas quase esgotadas. Passou a vender-se vinte litros, dez litros, cinco litros, um litro… até que acabou a última gota de gasolina.
Então foi o pânico. Não havia sequer autocarros, carrinhas de escola, carros de bombeiros ou ambulâncias. Os soldados passaram a ir para a guerra a pé. Mas os generais e outros oficiais superiores requisitaram os cavalos brancos da Guarda Republicana.
Os ministros conferenciaram pelo telefone e acharam por bem exigir os camelos do Jardim Zoológico.
E o presidente? Como poderia ele fazer as suas deslocações patrióticas, de Norte a Sul do território? Para o primeiro cidadão da Nação, enfeitou-se, com grande pompa, o elefante que toca o sino no Jardim Zoológico. Era imponente e tinha a grande vantagem de ir recebendo moedas dos admiradores que se juntavam para o saudar.
Aqueles senhores endinheirados que andavam a matar gente com carros de corrida compravam cavalos puro-sangue. Os homens da "Volta" pedalavam bicicletas. As famílias numerosas optaram pelas últimas carroças puxadas a mulas. As senhoras medrosas montavam vacas leiteiras. Alguns pais extremosos fizeram carrinhos puxados a cães para os meninos não faltarem às aulas. E o povo, os antigos donos dos automóveis Mini e dos modelos comprados a prestações ou em segunda mão? Começaram a comprar burros, tantos, tantos, tantos que em breve toda a cidade estava atulhada de burros, trotando, galopando, embirrando que não queriam andar.
Nas inúteis bombas de gasolina vendiam-se molhos de palha e braçados de erva. Já ninguém tinha os ouvidos martirizados pelas buzinas, mas pela bela voz grave e sentimental dos burros a zurrar.
E quando um condutor, furioso, gritava para o outro "saia da minha frente, seu burro!", já ninguém se irritava, pois pensava que o insulto era dirigido ao orelhudo bicho de quatro patas.

Luísa Ducla Soares

Esta autora ainda não sabe que a admiro muito, neste momento estou a trabalhar sobre sobre algumas das suas obras y que bien lo estoy pasando!


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A carícia de um sol de Inverno

na cidade das Ciências

FOR THE REINTRODUCTION OF MEN INTO NATURE







Achei esta campanha publicitária muito interessante, o que vos parece?



quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama,
nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008


Sinto uma grande serenidade. Acordei assim, adulta a olhar o mundo e a saber que ele me vê e está comigo a toda a hora.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

DEFICIÊNCIAS

'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.
'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
'Paralítico' é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
'Diabético' é quem não consegue ser doce.
'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

A amizade é um amor que nunca morre.

Mário Quintana