domingo, 30 de novembro de 2008

Hoje acordei com vontade de escrever

Vou meditar, sentar-me imóvel e não pensar em mais nada. Como a minha cabeça não me deixa à parte de meditar faço de tudo preparo aulas vejo a última vez que fizemos amor e a minha cabeça não me deixa chegar ao poema. Não vejo nada está tudo cinza de verdade. Talvez melhor trocar de cabeça talvez a do primeiro ministro oca mas aí a ambição se espalharia por todo o corpo ou a de um desportista um piloto de fórmula um para morrer cremada ou a de uma bailarina russa com um nome terminado em kov e a bailar como um cisne. A de Fernando Pessoa seria uma experiência interessante e assim podia escolher sabes que escolheria a que fala de árvores e flores e montes e Deus e tudo que é a mesma coisa e metido nela podia escrever à luz dos nossos dias que é a mesma coisa só com a diferença de estarmos mais à beira do fim. Mas não tenho remédio se não carregar esta cabeça que já carregou piolhos e lêndeas e a minha avó costumava pentear-me com um pente de dentes finos para cima de um pano que punha ao colo e eu via-os depois entre as unhas esmagados e agora sei que era o barulho da quitina. Hoje carrego o presente o passado e o futuro que ainda está para vir onde imagino que carregarei um passado que não pára de aumentar. Mas uma cabeça que me serviria bem era a de uma mulher-a-dias com o ruído do aspirador que não me deixaria pensar ou a daqueles homens que indicam o sítio da aterragem dos aviões e que com umas pás acenam bem-vindos eles que protegem os ouvidos como se vivessem no gelo como se lhes adiantasse. A de um surdo-mudo é que não me convinha todo o dia a ouvir-me por dentro e sem puder deitar para fora à parte da palavra escrita liberdade a de um cego é bem pior na de um cego não se vê mesmo nada para fora e para dentro não sei. Talvez fosse esta a que me convinha mas tenho medo de ficar a sós.

Sem comentários: