terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Amélie a Paris

GÉRARD, Psiché et l'amour

Café les deux moulins





quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um conto de Natal que escrevi há muiiiiiiiiiiito tempo

Um conto de Natal

O Natal aproximava-se e Zézinho na sua pequena casa, que mais parecia uma casa de bonecas em ruínas, sonhava com a noite de Natal. A caixa de fósforos que lhe servia de quarto ficava no cimo de uma escada improvisada que dava para o sótão. Na casa não havia nenhum outro espaço disponível. Para além do seu minúsculo quarto, existia uma divisão onde dormiam os seus quatro irmãos e que servia ao mesmo tempo de cozinha e o quarto dos pais apenas com uma cortina a separar.
Zézinho, por ser o mais pequeno, era o único que cabia naquele cantinho perto do céu. Tinha esse mundo só para si. Era o seu mundo, mágico, mas sufocante na altura de mais calor e um tormento gélido nos invernos rigorosos. Aí Zézinho brincava de tudo. Retirava uma telha partida onde debaixo um balde aparava as pingas e observava a lua cheia. Imaginava-se aos comandos de um foguetão espacial que o levasse a pisar aquela enorme bola de prata. Outras vezes montava uma estrela cadente, domador de cavalos celestes.
Agora contava as estrelas para não chorar. Era a noite de Natal e Zézinho tinha pedido muito, mas muito, uma casa nova onde pudessem ser felizes. Nessa noite de inverno, como tantas outras, Zézinho deitava-se em companhia do balde das pingas e do cheiro a mofo. Era tal o frio que sentia, que tinha de dormir com a pouca roupa que tinha. Camisola sobre camisola, um casaco grosseiro a cheirar a lã, Zézinho sonhava com uma casa com lareira, onde pudesse deixar o sapatinho para o Menino Jesus pôr lá dentro coisas bonitas.
Nessa noite os seus quatro irmãos já dormiam, dois com os pés para a cabeceira e os outros dois para o lado contrário. Zézinho pensava neles... Tão novinhos e já com as mãos calosas do trabalho na fábrica de calçado onde também trabalhava o pai. Sem tempo para se encontrarem nas suas brincadeiras de meninos.
A sua mãe... pensava nela. Passava os dias esfregando e esfregando a roupa dos fregueses. Os seus olhos enchiam-se de água ao pensarem quando chegava com as mãos tão enganidas que nem conseguiam pegar-lhe ao colo. Atirava-se ao seu pescoço, faminto de um carinho, mas não tinha mãos para o agarrar. Na Primavera, gostava de a acompanhar ao rio. Observava os pequenos girinos, colherzinhas, como lhe chamava, e divertia-se a tentar apanhá-los com armadilhas.
A sua mãe era a pessoa que ele mais admirava. Conseguia equilibrar na cabeça uma bacia cheinha de roupa lavada e nem sequer punha as mãos a segurar.
Na ilha onde morava, tudo era miséria. Gritos ecoavam por todas as partes, vindos de vozes ásperas e amarguradas. O chão lamacento que cobria o caminho, entrava pela casa adentro, para que não esquecessem nunca a miséria em que viviam. Tudo era lamacento e frio. Zézinho pensava na doçura da sua mãe e sonhava com uma casa nova. Imaginava com alegria os seus irmãos, cada um com o seu quarto, a cheirar a ninho em vez de fritos. Ria sozinho de felicidade com as imagens da sua nova morada.
Era noite de Natal e o milagre acontecia. Depois da magra ceia, Zézinho subiu para o seu mundo. Tirou a telha partida e deixou-se ficar longas horas a observar o céu. Adormeceu com o coração faminto de um presente.
Nessa noite, um enorme temporal se abateu sobre a região. Um espectáculo de luz e cor que mais parecia fogo de artifício a anunciar o nascimento do Menino. Um raio de luz adentrou-se na casa na ilha das casas onde vivia e veio cumprimentá-lo no seu pedacinho de céu. Bateu-lhe ao de leve na face, despertando-o. Zézinho deixou-se envolver por esta aura celestial que de mansinho o convidava a viajar. Podia agora visitar o reino das estrelas que tão bem conhecia. Transportado por essa luz divina, seguiu os seus mais lindos sonhos de menino.
A partir desse dia Zézinho tinha uma nova morada.

Braga, 20 de Novembro de 2002

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Al principio era día

Al principio era día
cargaba amor en mi espalda
lo alimentaba con mis tetas
estaba gordo y luciente
se hice noche
de repente
se hice noche
el amor ha ido a su entierro
dicen que solo ha tenido una hija
se llama tristeza
duerme todos los días
a mi lado

sábado, 20 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Roads Portishead

Tradições




É duro na verdade é
também as touradas.
Foi por estas causas que decidi criar um blog.
Ainda me lembro de estar em Valência por alturas das Fallas e passar perto da arena. Lá dentro uma multidão à pinha gritava, eu sentia um arrepio e ia para casa a olhar o chão.

domingo, 14 de dezembro de 2008

O Presente

Ontem na festinha de Natal dos meninos contei esta história. Na verdade não é um conto de Natal (os pais querem comprar uma prenda de aniversário para Miguelito), mas adaptei-o e funciona lindamente. Presto a minha homenagem aos autores. As pessoas gostaram muito, era uma plateia a perder de vista. Soube muito bem. No final, até um pai com um grande hálito me veio dizer que tinha gostado.

O presente
(Título original el Regalo)
Texto Gabriela Keselman
Ilustrações Pep Montserrat
Adaptação e tradução Amélia Silva

A senhora e o senhor Bonspais sentaram-se no Cadeirão de Pensar. Só se sentavam aí quando tinham que pensar em algo muito importante. Tinham que escolher um presente de Natal para o seu filho Miguelito. Mas não se lhes ocorria nada.
Pensaram e pensaram. Mas o Cadeirão de Pensar era demasiado duro. E pensar era bastante difícil. Assim que, passado um bocado o senhor e a senhora Bons pais tinham três problemas realmente importantes:
uma dor na parte traseira de sentar;
outra, na parte de pensar;
e, o terceiro, é que não lhes tinha surgido nem uma só ideia.
Então decidiram o melhor para todos.
Não pensariam mais.
Iriam procurar o mesmíssimo interessado. Quer dizer, o seu filho Miguelito. E perguntar-lhe-iam. E isso foi exactamente o que fizeram.
- Filhinho, Miguelito, que desejas de presente de Natal?
- Quero um presente muito especial! – respondeu Miguelito.
- Quero que seja muito grande!
O senhor e a senhora Bonspais olharam-se fixamente nos olhos. - Quer um elefante -disseram.
- E quero que seja forte! - continuou Miguelito.
O senhor e a senhora Bonspais deram as mãos. – Quer um levantador de pesos -disseram.
- E quero que seja muito macio!
O senhor e a senhora Bonspais juntaram a ponta do nariz. – Quer um ursinho de peluche - disseram.
- E quero que seja muito doce!
O senhor e a senhora Bonspais pisaram nos pés um do outro. – Quer um saco gigante de guloseimas - disseram.
- E quero que seja quentinho, quentinho!
O senhor e a senhora Bonspais beliscaram-se nas bochechas. – Quer uma lareira - disseram.
- E ainda - insistiu Miguelito – quero que se mova de um lado para o outro! de um lado para o outro! de um lado para o outro!
O senhor e a senhora Bonspais ficaram bastante tontos. - Quer um barco à vela - disseram.
- E também quero que me faça voar!
O senhor e a senhora Bonspais ficaram parasilados como estátuas. – Quer um helicóptero - disseram.
- E quero que me dê vontade de rir!
O senhor e a senhora Bonspais caíram de costas. – Quer um palhaço de circo - disseram.
- E quero que dure muito muito tempoooooooooooo!
O senhor e a senhora Bonspais já não atinaram em fazer mais nada. – Quer um dia grande como um prato de sopa - disseram.
A verdade é que tinham um grande problema. O seu filhos queria algo que fosse grande, forte, macio, doce, quentinho, que se movesse de um lado para o outro, que o fizesse voar, que lhe desse vontade de rir e que durasse muito. Onde iam conseguir um presente tão especial?
Desde logo não era nada fácil. Assim que foram direitinhos ao cadeirão de Pensar. Sentaram-se e pensaram, mas não lhes serviu de nada. Não davam com a solução.
E assim se passou um dia. E dois. E três.
Estava a chegar o grande momento e eles, os senhores Bons pais, ainda não tinham a prenda para o seu filho Miguelito. Sentiam-se desolados… Enfim, estavam muito tristes. Então, levantaram-se do Cadeirão de Pensar e foram falar com o filho.
- Miguelito, filhinho – disseram os senhores Bonspais com uma voz muito triste - ejem, ejem… não encontramos…
Cof, cof…
O presente…
Mjjjj, mjjjj…
Que esperavas…
E como não sabiam o que dizer, deram-lhe um abraço grande, forte, macio, doce e quentinho. Ainda o balancearam de um lado para o outro, o levantaram no ar e fizeram rir e assim estiveram durante um tempo interminável.


- Era mesmo o presente que eu queria! – suspirou Miguelito.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

do coração e de outras

Sim, dizias-me que já sabia tudo, que tinha problemas do coração. Ou no coração.
Entreolharam-me. Dei um sorriso pálido. A verdade é que falavas diferente, vestias diferente com esse chapéu à Panamá e os pêlos do pescoço a lembrar um galo. Tinhas razão.
Depois pediste para pensarmos na pessoa que nos contava histórias de pequenos.
Agora não gosto das histórias que me contam.
Não sei se viste correrem as lágrimas.
Eu vi-a. Segurava-me a mão e eu sentia-a rugosa. As veias como montes e as manchas no lugar onde eu as recordava. Fiquei pequenina.
E tu continuavas e eu já não te podia acompanhar. Conta outra vez conta outra vez! É para isso que contamos histórias, dizias.

sábado, 6 de dezembro de 2008

La verdad de hoy

La humanidad entera comparte tus reacciones. Tu cerebro ha evolucionado durante siglos, antes de pertenecerte.
Nos preguntamos muy seriamente si existe en verdad un individuo. Cada uno de nosotros es la humanidad entera.

Krishnamurti

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

I believe in Father Christmas

http://es.youtube.com/watch?v=6W9pyWEN60o

They said there'll be snow at Christmas
They said there'll be peace on earth
Instead it just kept on raining
With tears for the virgins birth
I remember one Christmas morning
A winters light and a distant choir
And the peal of a bell and that Christmas tree smell
And their eyes full of tinsel and fire

They sold me a dream of Christmas
They sold me a silent night
And they told me a fairy story
'Till I believed in the israelite
And I believed in Father Christmas
And I looked at the sky with excited eyes
'Till I woke with a yawn in the first light of dawn
And I saw him and through his disguise

I wish you a hopeful Christmas
I wish you a brave New Year
All anguish, pain and sadness
Leave your heart and let your road be clear
They said there'll be snow at Christmas
They said there'll be peace on earth
Hallelujah Noel be it heaven or hell
The Christmas you get you deserve

Hoje vi Deus

Estava encostado à parede. Os cabelos escorriam-lhe como torrentes pelas (en)costas. O casaco escuro igual ao de Drácula menos no forro. O rosto branco obscuro e o nariz oblíquo oblongo e carrancudo. Não me recordo dos olhos acho que não os cheguei a ver. Eu escalava as escadas longas altas e sem fim. Ele encostado ao lado direito. Eu continuava a subir e ele ficava para trás. Não gosto de te ter por trás. Prefiro quando estás à frente ou ao lado. Por dentro também atrás não. Os cabelos eram pretos de penumbra e quase varriam o chão. O nariz oblíquo, oblongo e carrancudo não era tal como eu tinha imaginado. Esperava-te no alto com os cabelos e as barbas a ondular o chão como ondas de espuma. E o nariz carrancudo aberto num sorriso e os braços também. E os olhos azuis como os do teu filho que vemos nos filmes. Mas não foi assim e davas medo e eu vi-te à minha imagem com os teus cabelos negros e a cara sinistra. E eu só a vi de lado.
Pega nos teus cabelos e transforma-os em fios de oiro e o teu nariz oblíquo, oblongo e carrancudo deixa-o cair pelas escadas. Despe o escuro cinza do capote e deixa-te ficar desprotegido.
Eu continuo a subir e já vejo a ogiva da tua catedral e estás à minha espera tal como eu imaginei e dás-me os fios de oiro e pedes-me para os distribuir aos pobres mas não me apetece voltar.