O verbo ler não suporta o imperativo. Tal como o verbo amar, sonhar. Não se pode exigir que se ame, como não se pode obrigar a que se leia. Assim começa o autor este “romance”.
“É preciso ler”.
Este livro ajuda-nos a ver que o prazer de ler não está muito longe, que é fácil de encontrar, pode apenas estar escondido.
“É preciso ler”.
Ensina-nos a perceber que caminhos podemostomar para o encontrar. E parece tão simples.
“É preciso ler”.
Como a historinha que é lida todas as noites, sem se exigir nada em troca, como se de um presente se tratasse.
“É preciso ler”.
Criar o desejo de aprender sem esperar contrapartidas, sem nos apressarmos em obter resultados. E parece tão simples.
“É preciso ler”.
Neste pequeno livro que se lê como um romance, o dogma: “É preciso ler! É preciso ler!”, é transformado em: “É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
“É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
Dirigido a todos os que querem ser bons pedagogos, sem grande preocupação com pedagogia nenhuma. Aos profetas da desgraça, que culpam a televisão e os jogos electrónicos, este livro não dá a mínima importância.
“É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
O autor termina com os 10 direitos do leitor, direitos de que nos valemos a nós próprios e que são válidos também para os nossos filhos, os nossos alunos, os nossos jovens. Vai ficar surpreendido.
1- O direito de não ler – muitos não lêem porque disso não sentem necessidade, sem que por isso se tornem menos “humanos”.
2- O direito de saltar páginas – porque nos apetece, pelas razões que são só nossas.
3- O direito de não acabar um livro – pôr o livro de lado para um dia voltar a ele ou não.
4- O direito de reler – a alegria de saborear as mesmas palavras com novas descobertas.
5- O direito de ler não importa o quê - bons e maus romances, ao gosto de cada um.
6- O direito de amar os “heróis” dos romances - deixemo-nos levar pelas emoções!
7- O direito de ler não importa onde - sim, mesmo nas latrinas.
8- O direito de saltar de livro em livro - abrir os livros e debicar aqui e ali.
9- O direito de ler em voz alta - dar vida aos livros, colocar as palavras na boca antes de as meter na cabeça.
10- O direito de não falar do que se leu - aqui exerço este meu direito e mais não digo.
PENNAC, Daniel (2002): Como um romance. Porto: Asa Editores.
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