terça-feira, 30 de dezembro de 2008
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Um conto de Natal que escrevi há muiiiiiiiiiiito tempo
O Natal aproximava-se e Zézinho na sua pequena casa, que mais parecia uma casa de bonecas em ruínas, sonhava com a noite de Natal. A caixa de fósforos que lhe servia de quarto ficava no cimo de uma escada improvisada que dava para o sótão. Na casa não havia nenhum outro espaço disponível. Para além do seu minúsculo quarto, existia uma divisão onde dormiam os seus quatro irmãos e que servia ao mesmo tempo de cozinha e o quarto dos pais apenas com uma cortina a separar.
Zézinho, por ser o mais pequeno, era o único que cabia naquele cantinho perto do céu. Tinha esse mundo só para si. Era o seu mundo, mágico, mas sufocante na altura de mais calor e um tormento gélido nos invernos rigorosos. Aí Zézinho brincava de tudo. Retirava uma telha partida onde debaixo um balde aparava as pingas e observava a lua cheia. Imaginava-se aos comandos de um foguetão espacial que o levasse a pisar aquela enorme bola de prata. Outras vezes montava uma estrela cadente, domador de cavalos celestes.
Agora contava as estrelas para não chorar. Era a noite de Natal e Zézinho tinha pedido muito, mas muito, uma casa nova onde pudessem ser felizes. Nessa noite de inverno, como tantas outras, Zézinho deitava-se em companhia do balde das pingas e do cheiro a mofo. Era tal o frio que sentia, que tinha de dormir com a pouca roupa que tinha. Camisola sobre camisola, um casaco grosseiro a cheirar a lã, Zézinho sonhava com uma casa com lareira, onde pudesse deixar o sapatinho para o Menino Jesus pôr lá dentro coisas bonitas.
Nessa noite os seus quatro irmãos já dormiam, dois com os pés para a cabeceira e os outros dois para o lado contrário. Zézinho pensava neles... Tão novinhos e já com as mãos calosas do trabalho na fábrica de calçado onde também trabalhava o pai. Sem tempo para se encontrarem nas suas brincadeiras de meninos.
A sua mãe... pensava nela. Passava os dias esfregando e esfregando a roupa dos fregueses. Os seus olhos enchiam-se de água ao pensarem quando chegava com as mãos tão enganidas que nem conseguiam pegar-lhe ao colo. Atirava-se ao seu pescoço, faminto de um carinho, mas não tinha mãos para o agarrar. Na Primavera, gostava de a acompanhar ao rio. Observava os pequenos girinos, colherzinhas, como lhe chamava, e divertia-se a tentar apanhá-los com armadilhas.
A sua mãe era a pessoa que ele mais admirava. Conseguia equilibrar na cabeça uma bacia cheinha de roupa lavada e nem sequer punha as mãos a segurar.
Na ilha onde morava, tudo era miséria. Gritos ecoavam por todas as partes, vindos de vozes ásperas e amarguradas. O chão lamacento que cobria o caminho, entrava pela casa adentro, para que não esquecessem nunca a miséria em que viviam. Tudo era lamacento e frio. Zézinho pensava na doçura da sua mãe e sonhava com uma casa nova. Imaginava com alegria os seus irmãos, cada um com o seu quarto, a cheirar a ninho em vez de fritos. Ria sozinho de felicidade com as imagens da sua nova morada.
Era noite de Natal e o milagre acontecia. Depois da magra ceia, Zézinho subiu para o seu mundo. Tirou a telha partida e deixou-se ficar longas horas a observar o céu. Adormeceu com o coração faminto de um presente.
Nessa noite, um enorme temporal se abateu sobre a região. Um espectáculo de luz e cor que mais parecia fogo de artifício a anunciar o nascimento do Menino. Um raio de luz adentrou-se na casa na ilha das casas onde vivia e veio cumprimentá-lo no seu pedacinho de céu. Bateu-lhe ao de leve na face, despertando-o. Zézinho deixou-se envolver por esta aura celestial que de mansinho o convidava a viajar. Podia agora visitar o reino das estrelas que tão bem conhecia. Transportado por essa luz divina, seguiu os seus mais lindos sonhos de menino.
A partir desse dia Zézinho tinha uma nova morada.
Braga, 20 de Novembro de 2002
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Al principio era día
cargaba amor en mi espalda
lo alimentaba con mis tetas
estaba gordo y luciente
se hice noche
de repente
se hice noche
el amor ha ido a su entierro
dicen que solo ha tenido una hija
se llama tristeza
duerme todos los días
a mi lado
sábado, 20 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Tradições
domingo, 14 de dezembro de 2008
O Presente
O presente
(Título original el Regalo)
Texto Gabriela Keselman
Ilustrações Pep Montserrat
Adaptação e tradução Amélia Silva
A senhora e o senhor Bonspais sentaram-se no Cadeirão de Pensar. Só se sentavam aí quando tinham que pensar em algo muito importante. Tinham que escolher um presente de Natal para o seu filho Miguelito. Mas não se lhes ocorria nada.
Pensaram e pensaram. Mas o Cadeirão de Pensar era demasiado duro. E pensar era bastante difícil. Assim que, passado um bocado o senhor e a senhora Bons pais tinham três problemas realmente importantes:
uma dor na parte traseira de sentar;
outra, na parte de pensar;
e, o terceiro, é que não lhes tinha surgido nem uma só ideia.
Então decidiram o melhor para todos.
Não pensariam mais.
Iriam procurar o mesmíssimo interessado. Quer dizer, o seu filho Miguelito. E perguntar-lhe-iam. E isso foi exactamente o que fizeram.
- Filhinho, Miguelito, que desejas de presente de Natal?
- Quero um presente muito especial! – respondeu Miguelito.
- Quero que seja muito grande!
O senhor e a senhora Bonspais olharam-se fixamente nos olhos. - Quer um elefante -disseram.
- E quero que seja forte! - continuou Miguelito.
O senhor e a senhora Bonspais deram as mãos. – Quer um levantador de pesos -disseram.
- E quero que seja muito macio!
O senhor e a senhora Bonspais juntaram a ponta do nariz. – Quer um ursinho de peluche - disseram.
- E quero que seja muito doce!
O senhor e a senhora Bonspais pisaram nos pés um do outro. – Quer um saco gigante de guloseimas - disseram.
- E quero que seja quentinho, quentinho!
O senhor e a senhora Bonspais beliscaram-se nas bochechas. – Quer uma lareira - disseram.
- E ainda - insistiu Miguelito – quero que se mova de um lado para o outro! de um lado para o outro! de um lado para o outro!
O senhor e a senhora Bonspais ficaram bastante tontos. - Quer um barco à vela - disseram.
- E também quero que me faça voar!
O senhor e a senhora Bonspais ficaram parasilados como estátuas. – Quer um helicóptero - disseram.
- E quero que me dê vontade de rir!
O senhor e a senhora Bonspais caíram de costas. – Quer um palhaço de circo - disseram.
- E quero que dure muito muito tempoooooooooooo!
O senhor e a senhora Bonspais já não atinaram em fazer mais nada. – Quer um dia grande como um prato de sopa - disseram.
A verdade é que tinham um grande problema. O seu filhos queria algo que fosse grande, forte, macio, doce, quentinho, que se movesse de um lado para o outro, que o fizesse voar, que lhe desse vontade de rir e que durasse muito. Onde iam conseguir um presente tão especial?
Desde logo não era nada fácil. Assim que foram direitinhos ao cadeirão de Pensar. Sentaram-se e pensaram, mas não lhes serviu de nada. Não davam com a solução.
E assim se passou um dia. E dois. E três.
Estava a chegar o grande momento e eles, os senhores Bons pais, ainda não tinham a prenda para o seu filho Miguelito. Sentiam-se desolados… Enfim, estavam muito tristes. Então, levantaram-se do Cadeirão de Pensar e foram falar com o filho.
- Miguelito, filhinho – disseram os senhores Bonspais com uma voz muito triste - ejem, ejem… não encontramos…
Cof, cof…
O presente…
Mjjjj, mjjjj…
Que esperavas…
E como não sabiam o que dizer, deram-lhe um abraço grande, forte, macio, doce e quentinho. Ainda o balancearam de um lado para o outro, o levantaram no ar e fizeram rir e assim estiveram durante um tempo interminável.
- Era mesmo o presente que eu queria! – suspirou Miguelito.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
do coração e de outras
Entreolharam-me. Dei um sorriso pálido. A verdade é que falavas diferente, vestias diferente com esse chapéu à Panamá e os pêlos do pescoço a lembrar um galo. Tinhas razão.
Depois pediste para pensarmos na pessoa que nos contava histórias de pequenos.
Agora não gosto das histórias que me contam.
Não sei se viste correrem as lágrimas.
Eu vi-a. Segurava-me a mão e eu sentia-a rugosa. As veias como montes e as manchas no lugar onde eu as recordava. Fiquei pequenina.
E tu continuavas e eu já não te podia acompanhar. Conta outra vez conta outra vez! É para isso que contamos histórias, dizias.
sábado, 6 de dezembro de 2008
La verdad de hoy
Nos preguntamos muy seriamente si existe en verdad un individuo. Cada uno de nosotros es la humanidad entera.
Krishnamurti
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
I believe in Father Christmas
They said there'll be snow at Christmas
They said there'll be peace on earth
Instead it just kept on raining
With tears for the virgins birth
I remember one Christmas morning
A winters light and a distant choir
And the peal of a bell and that Christmas tree smell
And their eyes full of tinsel and fire
They sold me a dream of Christmas
They sold me a silent night
And they told me a fairy story
'Till I believed in the israelite
And I believed in Father Christmas
And I looked at the sky with excited eyes
'Till I woke with a yawn in the first light of dawn
And I saw him and through his disguise
I wish you a hopeful Christmas
I wish you a brave New Year
All anguish, pain and sadness
Leave your heart and let your road be clear
They said there'll be snow at Christmas
They said there'll be peace on earth
Hallelujah Noel be it heaven or hell
The Christmas you get you deserve
Hoje vi Deus
Pega nos teus cabelos e transforma-os em fios de oiro e o teu nariz oblíquo, oblongo e carrancudo deixa-o cair pelas escadas. Despe o escuro cinza do capote e deixa-te ficar desprotegido.
Eu continuo a subir e já vejo a ogiva da tua catedral e estás à minha espera tal como eu imaginei e dás-me os fios de oiro e pedes-me para os distribuir aos pobres mas não me apetece voltar.
domingo, 30 de novembro de 2008
Hoje acordei com vontade de escrever
Mas ainda não era o fim era só uma execução mas o fim estava próximo. Pensava que no nosso país (não) estavam proibidas as execuções. É que são reincidentes diziam e eu pensava em que raios teriam reincidido. Tive a ideia de ir para a televisão falar de amor ao próximo e tolerância e compaixão e atirar-me-iam ovos podres e tomates ou no mínimo mudariam de canal talvez se eu chamasse a atenção como aquela apresentadora de telediário que se ia despindo à medida que lia as notícias e eu podia ir-me desabotoando lentamente como se não tivesse dedos nem braços e falar de amor. Era capaz de ser mal entendida. Podia começar a masturbar-me em frente às câmaras e gritar venham, juntem-se a mim nesta luta. Seria mal entendida.
E ali continuava sem conseguir passar e o ambiente que sentia era de terror e eu a pensar que no nosso país não havia execuções mas estava enganada.
Hoje acordei com vontade de escrever
sábado, 29 de novembro de 2008
la voz de Dios en la voz de Antony
http://www.youtube.com/watch?v=1MDlMdu2gjw
If It Be Your Will
Leonard Cohen
If it be your will
That I speak no more
And my voice be still
As it was before
I will speak no more
I shall abide until
I am spoken for
If it be your will
If it be your will
That a voice be true
From this broken hill
I will sing to you
From this broken hill
All your praises they shall ring
If it be your will
To let me sing
From this broken hill
All your praises they shall ring
If it be your will
To let me sing
If it be your will
If there is a choice
Let the rivers fill
Let the hills rejoice
Let your mercy spill
On all these burning hearts in hell
If it be your will
To make us well
And draw us near
And bind us tight
All your children here
In their rags of light
In our rags of light
All dressed to kill
And end this night
If it be your will
If it be your will.
domingo, 23 de novembro de 2008
sábado, 15 de novembro de 2008
Antony and the Johnsons - Child of God
Esta música diz tudo o que há para saber. É simplesmente genial.
A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Another song
And the rainbow is grey
I’m a cloudy heart
I’ve swallow a hurricane
I’m a cloudy heart
I’m a cloudy heart
And I’m looking for pain
Should I look for the sunshine
When all I want is pain
I can’t bear happiness
I can’t stand a smile
It’s so bright and warm
And I’m not ready know
I’m not ready
I’m not ready
I’m not ready
‘cause I only have grey
that’s the rainbow I love
it’s a one colour rainbow
for a one colour heart
maybe some day
I’ll learn to paint
The true colours of my heart
maybe some day
I’ll learn to paint
The true colours of my heart.
domingo, 2 de novembro de 2008
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Para quem me visita de novo... e de velho
Quando me levantei
já as minhas sandálias andavam
a passear lá fora na relva
Esta noite
até os atacadores dos sapatos
floriram
DIÓSPIROS
Há frutos que é preciso
acariciar
com os dedos com
a língua
e só depois
muito depois
se deixam morder
(in "O Poeta Nu", Jorge Sousa Braga)
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Tenho andado afastada da Blogosfera mas não estou triste Now I´m a songwriter
Thank you father
Thank you for hurting me
You’re mean mother
You’re mean father
You were so mean to me
You turn me into peaces
When I was just a little girl
I was just a little one
You’re mean mother
You ain’t give me love
You’re mean father
You gave me too much love
But thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me
Later when others did
It was really much easier
Now I’m a woman
A grown up woman now
I took every peace
And I invented me
So thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me
I became a fairy
To escape the pain
I stayed too long in wonderland
So I became a fairy
Living in this unfair world
Thank you mother
Thank you father
Thank you for hurting me
I’m not mean, I’m a good one
I became a fairy
Straggling the unfair
In this inhuman world.
Inspirado no "Segundo do Fim" de João Negreiros
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
De mim não posso fugir, paciência
sonhos dormidos e despertos
não posso fugir
fumas um cigarro num ruído de fogo e escarros
picas a garganta de punho fechado
entras sem bater
pelas narinas finges-te pequeno
faço-te grande e vejo-O em ti
tenro e terno
eu nua e crua
e a loucura não me deixa, paciência
domingo, 21 de setembro de 2008
sábado, 6 de setembro de 2008
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Three angels
he had you’re name
I was touched by some angel now
you were in it
An angel just touched me
didn’t you?
terça-feira, 2 de setembro de 2008
terça-feira, 12 de agosto de 2008
terça-feira, 29 de julho de 2008
sábado, 26 de julho de 2008
2 semanas e meia
Cuentame un cuento Conta-me um conto 4
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Cuentame un cuento Conta-me um conto 3
A minha amiga falou-me baixinho ao ouvido. Que lês, perguntou. Nada, é um livro daqui. Não o posso levar porque não tenho outro para troca. Voltarei por ele. Acenou com a cabeça que entendia. Na verdade estava com muita curiosidade de passar os olhos pelo livro.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Cuentame un cuento Conta-me um conto 2
Ali estava o livro abandonado em cima da mesa. Na verdade tinha muita vontade de ver do que tratava. Passei as mãos pela capa. Era de tecido áspero. Senti a tela que o envolvia, de um creme sujo, gasto pelo tempo. Em baixo relevo estava esculpido o título. O artista seguia com os seus frascos de tintas multicolores. Ia-as combinando na enorme tela ao som da música. O cheiro a químicos resultava um pouco desagradável. Menos mal que estavamos ao ar livre.Os meus amigos adivinharam-me os penasmentos. Entreolhamo-nos e sorrimos. Logo voltamos a admirar a criação espontânea que ia surgindo.
Com os dedos percorri cada letra. Pauline.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Cuentame un cuento Conta-me um conto 1
E assim começou. Uma ronda de livros entre desconhecidos. Numa pequena associação havia começado um projecto de troca de livros. Chamava-se ronda de livros e cada um podia levar livros livremente para casa a câmbio de deixar outro. Nessa noite fui tomar uma cervejita com os amigos. Ia ver um ilustrador que compunha ao som da música. O espectáculo estava atrasado. As prateleiras de livros estavam por todas as partes. Esperava os meus amigos e observava-os. Ia passando os olhos e reconhecendo alguns; o vermelho e o negro, a jangada de pedra, o crime do padre amaro. Uma grande variedade. Estava de verdade com vontade de pegar algum poema enquanto esperava. Mas de entre todos, um me chamava. Quando dei por mim já tinha o braço estendido e estranhamente sentia que o livro me esperava. Queria-me com todas as suas forças. Olhei a capa. Mas que livro era este que me queria tanto?
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Assim é mais fácil de entender
Sabe Deus o que quero dizer
Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou,
e se ao menos tudo fosse igual a ti
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se falasse era fácil de entender
É o amor, que chega ao fim, um final assim,
assim é mais fácil de entender.
Trocito de Fácil de Entender, The Gift
domingo, 20 de julho de 2008
sábado, 19 de julho de 2008
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Venenos de Deus, Remédios do Diabo
Fala de Bartolomeu Sozinho, personagem de Venenos de Deus, Remédios do Diabo, de Mia Couto, Editorial Caminho.
terça-feira, 15 de julho de 2008
A minha filha adoptiva
segunda-feira, 14 de julho de 2008
¡Una joya!
El pájaro del que voy a hablar es el búho. El búho no ve de día y de noche es más ciego que un topo.
No sé gran cosa del búho, así que continuaré con otro animal que voy a elegir.
La vaca
La vaca es un mamífero. Tiene seis lados: el derecho, el de la izquierda, el de arriba, el de abajo; el de la parte de atrás tiene un rabo del que cuelga una brocha. Con esta brocha se espantan las moscas para que no caigan en la leche.
La cabeza sirve para que le salgan los cuernos y además porque la boca tiene que estar en alguna parte. Los cuernos son para combatir con ellos. Por la parte de abajo tiene la leche. Está equipada para que se la pueda ordeñar.
Cuando se la ordeña, la leche viene y ya no se para nunca. ¿Cómo se las arreglará la vaca? Nunca he podido comprenderlo, pero cada vez sale con mayor abundancia.
El marido de la vaca es el buey. El buey no es un mamífero porque no tiene mamas. La vaca no come mucho; pero lo que come, lo come dos veces, así que ya tiene bastante.
Cuando tiene hambre y cuando no dice nada es que está llena por dentro de hierba.
Sus patas le llegan hasta el suelo. La vaca tiene el olfato muy desarrollado, por lo que se la puede oler desde lejos. Por eso es por el que el aire del campo es tan sano.
Niño de 8 años.
Here I Go Again!
I LET LOVE IN I LET LOVE IN
domingo, 13 de julho de 2008
La ciudad de las mariposas
Um eco
baixinho
como um murmúrio
um eco eco eco
um nome como um soco
nos lábios que o articulam
um nome
nauseabundo entre os nausabundos
um nome qualquer
feito de todos os nomes
um nome
que envenena a língua
e deita por terra todos os teus sonhos.
Um nome a apagar
dor por dor
a tragar
letra por letra
um nome que AMANHÃ
serás capaz de dizer
e repetir e repetir
na batida deste poema
como um eco eco eco
um nome
que é apenas um nome
onde cada letra é um gume
cada vez menos
cada vez menos
afiado
um nome que já és capaz de pronunciar
porque o AMANHÃ
é já o AGORA.
sábado, 12 de julho de 2008
sexta-feira, 11 de julho de 2008
morcegos e cegonhas
Não sei o que passou ontem à noite. Um português de S. Tomé a contar contos e um guineense a tocar Kora. Griotizando, se chamava o espectáculo. No claustro da Casa das Conchas olho o céu. Negro já com o cair da noite. Negro e quente. Vejo morcegos a bailar e cagonhas brancas a bater castanholas ao som da música. Nos meus ouvidos vai entrando a história do Zé Manel. Eu o prenunciava correctamente na minha portuguesice. Eu também já estive em S. Tomé e vi esse pássaro despertador que toca castanholas com as asas. Voei até à minha cama e dormi profundamente. De manhã não sabia muito bem o que se tinha passado.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
quarta-feira, 9 de julho de 2008
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Memória das Minhas Putas Tristes
Gabriel García Márquez
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Ilusión
El mismo tronco de árbol puede ser visto de diferentes maneras.
El tronco de árbol es la realidad, y las visiones del tronco son las proyecciones de las diversas mentes.
Existe un solo ser, el selft, que es inmutable.
Swami Vivekananda
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Como um romance
“É preciso ler”.
Este livro ajuda-nos a ver que o prazer de ler não está muito longe, que é fácil de encontrar, pode apenas estar escondido.
“É preciso ler”.
Ensina-nos a perceber que caminhos podemostomar para o encontrar. E parece tão simples.
“É preciso ler”.
Como a historinha que é lida todas as noites, sem se exigir nada em troca, como se de um presente se tratasse.
“É preciso ler”.
Criar o desejo de aprender sem esperar contrapartidas, sem nos apressarmos em obter resultados. E parece tão simples.
“É preciso ler”.
Neste pequeno livro que se lê como um romance, o dogma: “É preciso ler! É preciso ler!”, é transformado em: “É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
“É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
Dirigido a todos os que querem ser bons pedagogos, sem grande preocupação com pedagogia nenhuma. Aos profetas da desgraça, que culpam a televisão e os jogos electrónicos, este livro não dá a mínima importância.
“É preciso dar-lhes o desejo de ler!”.
O autor termina com os 10 direitos do leitor, direitos de que nos valemos a nós próprios e que são válidos também para os nossos filhos, os nossos alunos, os nossos jovens. Vai ficar surpreendido.
1- O direito de não ler – muitos não lêem porque disso não sentem necessidade, sem que por isso se tornem menos “humanos”.
2- O direito de saltar páginas – porque nos apetece, pelas razões que são só nossas.
3- O direito de não acabar um livro – pôr o livro de lado para um dia voltar a ele ou não.
4- O direito de reler – a alegria de saborear as mesmas palavras com novas descobertas.
5- O direito de ler não importa o quê - bons e maus romances, ao gosto de cada um.
6- O direito de amar os “heróis” dos romances - deixemo-nos levar pelas emoções!
7- O direito de ler não importa onde - sim, mesmo nas latrinas.
8- O direito de saltar de livro em livro - abrir os livros e debicar aqui e ali.
9- O direito de ler em voz alta - dar vida aos livros, colocar as palavras na boca antes de as meter na cabeça.
10- O direito de não falar do que se leu - aqui exerço este meu direito e mais não digo.
PENNAC, Daniel (2002): Como um romance. Porto: Asa Editores.
Discurso!
Este discurso merece ser lido, afinal não é todos os dias que um brasileiro dá um 'baile' educadíssimo aos Americanos...
Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência em alguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam Buarque:
'De facto, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia.
Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!'
ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO. AJUDE-NOS A DIVULGÁ-LO porque é muito importante ... e porque foi CENSURADO!
terça-feira, 24 de junho de 2008
As atrocidades
Antony and the johnsons
Veja o filme, se tiver coragem, é muito duro e assine a petição.
São as atrocidades as atrocidades
http://www.petatv.com/tvpopup/video.asp?video=fur_farm&Player=wm&speed=med
sábado, 21 de junho de 2008
Querido pai
BOAS FÉRIAS MEUS AMORES
sexta-feira, 13 de junho de 2008
a alegria de passar os dias inteirinhos a brincar!
a princesinha
talvez adopte a querida mãe que a acolheu com tanto carinho. chama-se kinder e é very kind.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
vai ficar bem
quinta-feira, 5 de junho de 2008
força de viver
quarta-feira, 4 de junho de 2008
não sei bem
quinta-feira, 29 de maio de 2008
segunda-feira, 26 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
segunda-feira, 5 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
26 de Abril
Swami Vivekananda
In Sabidurías, 365 pensamientos de maestros de la India
Un regalo de Javi, mi amigo de toda la vida.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
deixa lá
quarta-feira, 23 de abril de 2008
I LET LOVE IN I LET LOVE IN
Thank you for playing the old (new) songs
OBRIfuckinGADO
You´re a great storyteller, terror fairy tales, the best!
OBRIfuckinGADO
Nick Cave and The Bad Seeds
Coliseu do Porto, 22 de Abril
A borboleta Leonoreta que às vezes é meia cegueta
quinta-feira, 17 de abril de 2008
ANTONY & THE JOHNSONS You Are My Sister
So innocent, so full of need
There were times we were friends but times I was so cruel
Each night I'd ask for you to watch me as I sleep
I was so afraid of the night
You seemed to move through the places that I feared
You lived inside my world so softly
Protected only by the kindness of your nature
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
We felt so differently then
So similar over the years
The way we laugh the way we experience pain
So many memories
But theres nothing left to gain from remembering
Faces and worlds that no one else will ever know
You are my sister
And I love you
May all of your dreams come true
I want this for you
They're gonna come true (gonna come true)
http://www.youtube.com/watch?v=S-NziGE6DVY&feature=related
quarta-feira, 9 de abril de 2008
que bonito
fuemos novios
nos besamos nos amamos
fuemos novios
que bonito
la vida sigue su curso
quinta-feira, 27 de março de 2008
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
é preciso não esquecer
estão aí para serem colhidas
A menina pensa demais
sim, a menina pensa demais
É bonito, é bonito, é bonito
se não fosse a menina pensar demais
é porque não era a menina
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Echar de menos
tu mirada
echo mucho de menos
tus manos heladas
echo mucho de menos
tus apretones
echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
cuando cantas
echo mucho de menos
tu nariz que antes se movía
echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
ver una peli abrazadita
echo mucho de menos
tu mirada
echo mucho de menos
tus padres
mis amigas
la baba de pedro
nuestra huerta
las coles gallegas y calabazas
tus postres
el olor de jazmín
la cueva de l’águila
mirar las estrellas
coger higos
el parc túria
mi bici roja
te echo mucho de menos cielo
vos echo mucho de menos Viky y José
vos echo mucho de menos Laura, Dany, Ester y Rafa
te echo mucho de menos Leyla
te echo mucho de menos Vaida
te echo mucho de menos Ana Claudia, Amparo y Lola
te echo mucho de menos Adriana
vos echo mucho de menos Lola y Majé
we’ll see each other soon
someday somewhere
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Adeus que me vou embora
Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Adeus que me embora vou
Vou daqui para a minha terra
Vou daqui para a minha terra
que eu desta terra não sou
que eu desta terra não sou
Tenho minha mãe à espera
Tenho minha mãe à espera
Cansada de me esperar
Cansada de me esperar
Naquela encosta da serra
Naquela encosta da serra
Vamos ser dois a chorar
Vamos ser dois a chorar
À espera tenho o meu pai
À espera tenho o meu pai
aos anos que não vejo
aos anos que não vejo
O tempo que vai durar
O tempo que vai durar
O meu abraço, o meu beijo
O meu abraço, o meu beijo
Vim solteiro e vou solteiro
Vim solteiro e vou solteiro
vou livre de corações
vou livre de corações
Se alguém me quiser prender
Se alguém me quiser prender
já não vou dizer que não
já não vou dizer que não
Adeus que me vou embora
Adeus que me vou embora
Adeus que me embora vou
Adeus que me embora vou
António Variações
está tudo conforme, obrigada António, só muda o se alguém me quiser prender, seguramente vou dizer que não.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Pequeno poema
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...
Sebastião da Gama
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Bird Girl
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly
Bird girls can fly
Antony and The Johsons
Jesus
- Sei um ninho!
A mãe levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder à Mãe, ou para acordar o Pai, repetiu:
- Sei um ninho!
O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também.
A criança, então, um tudo-nada excitada, contou. Contou que à tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no lato, numa galha.
A mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo.
Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima.
De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a mãe inquieto, com a respiração suspensa, a ouvir.
E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Firmava primeiro os braços; e só então as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rija.
A subida levou tempo. Foi até preciso descansar três vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já só vergônteas as pernadas da ponta.
Transidos, nem o Pai nem a Mãe diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, à crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado. O ninho tinha só um ovo.
Aqui, o menino fez parar o coração dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu fosse viver na terra, sem precisão dos braços cautelosos agarrados a nada. E ambos viram num relance o pequeno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chão duro e mortal de Nazaré.
Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, não caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simples calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera lá de dentro um pintassilgo depenadinho.
E o menino contava esta maravilha com a sua inocência acostumada, como quando repetia a história de José do Egipto, que ouvira ler a um vizinho.
Por fim, pôs amorosamente o passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho.
A ceia acabou num silêncio carregado. Só depois, à volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno não entendeu. Mas para quê entender palavras assim? Queria era guardar dentro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olhar cheio de deslumbramento os dedos da Mãe, que, alvos de neve, fiavam linho.
E tanto se encheu da imagem do pintassilgo, tanto olhou a roca e o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que daí a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mãe.
TORGA, Miguel (2002). Bichos. Lisboa: Publicações D. Quixote. Págs. 73 a 75.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Adeus, gasolina!
Era uma vez um país à beira-mar, com florestas, campos, cidades e gentes. Rasgado por estradas, cortado por ruas, cheio de automóveis por toda a parte. Os jardins tinham sido alcatroados para parques de estacionamento. As estátuas deitadas abaixo para erguer bombas de gasolina.
Luísa Ducla Soares
Esta autora ainda não sabe que a admiro muito, neste momento estou a trabalhar sobre sobre algumas das suas obras y que bien lo estoy pasando!
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama,
nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
DEFICIÊNCIAS
'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.
'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
'Paralítico' é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
'Diabético' é quem não consegue ser doce.
'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
A amizade é um amor que nunca morre.
Mário Quintana