segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A vida

Uma vez na escola da Ponte, uma amiga levou este poema. Nunca mais me largou.

A Vida

Fazer da vida um processo de gestos simples:
De manhã, subir às árvores,
esperar a chegada dos pássaros,
beber alguma água do céu, distrair os caçadores,
ouvir o vento mais alto nas copas,
colher uma flor do campo para os olhos amados.

Ao meio-dia, olhar na direcção do sol, correr no campo,
comer frutos, sementes de trigo, velar os cursos de água,
cuidar dos animais feridos.

Ao sol-poente, regar as plantas para o alimento da noite,
preparar alguma terra para as sementeiras,
podar a vinha,
fazer alguns enxertos,
preparar alporques, tocar uma pedra
para sentir a força do universo.

À noite, sentado na terra, olhar o céu,
contar, outra vez, as estrelas,
meditar sobre os milhões de anos-luz que nos religam,
chorar sobre a velocidade da luz,
cantar para as aves nocturnas, chamar os lobos
dormir para ver nos sonhos
outras possibilidades de sobrevivência.

Firmino Mendes
“Um segredo guarda o mundo”

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